Cais, às vezes, afundas em teu fosso de silêncio, em teu abismo de orgulhosa cólera, e mal consegues voltar, trazendo restos do que achaste pelas profunduras da tua existência.
Meu amor, o que encontras em teu poço fechado? Algas, pântanos, rochas? O que vês, de olhos cegos, rancorosa e ferida?
Não acharás, amor, no poço em que cais o que na altura guardo para ti: um ramo de jasmins todo orvalhado, um beijo mais profundo que esse abismo.
Não me temas, não caias de novo em teu rancor. Sacode a minha palavra que te veio ferir e deixa que ela voe pela janela aberta. Ela voltará a ferir-me sem que tu a dirijas, porque foi carregada com um instante duro e esse instante será desarmado em meu peito.
Radiosa me sorri se minha boca fere. Não sou um pastor doce como em contos de fadas, mas um lenhador que comparte contigo terras, vento e espinhos das montanhas.
Dá-me amor, me sorri e me ajuda a ser bom. Não te firas em mim, seria inútil, não me firas a mim porque te feres.
Parecemo-nos muito; assim dizem - e eu o creio. Além do mesmo sangue, almas iguais nós temos; pois, pelo mesmo ideal e com o mesmo anseio, dentro da vida, nós lutamos e sofremos. Vemos na arte um refúgio, um oásis, um esteio para a nossa inquietude, e num barco sem remos vagamos à mercê do próprio devaneio, sabendo que jamais à enseada chegaremos E, apesar de ela ter todo um sol na cabeça e o nevoeiro do inverno a minha já embranqueça, da angústia de minha alma a sua compartilha. Ela pensa, eu medito... Ela sonha, eu me lembro... Nossa pobreza é igual de Dezembro a Novembro. Quem somos, afinal? Apenas, irmãs.
(Adelaide (Yde) Schloenbach Blumenschein)
Palavras semeadas
Tão longe de nós mesmos, o nosso tempo já passou (e até um pouco mais), mas você não voltou... E eu continuo a te esperar, porque o vaziou ficou, de palavras tão belas, que você semeou...